TRANSTORNOS AUTÍSTICOS   E   NEUROCIÊNCIA:

UM DIÁLOGO NECESSÁRIO

Maristela Corralero

 

Tenho acompanhado algumas famílias que vivem a angustia de receber o diagnóstico de T.E.A. (Transtorno do Espectro Autista) de seus filhos. Na maioria das vezes, o impacto do diagnóstico produz uma emoção que pode ser descrita como um misto de alívio que rapidamente é sucedido pela angústia. O alívio é justificado pela existência de uma resposta para o desenvolvimento atípico da criança, e a angustia tem em suas raízes o medo de não saber qual o melhor caminho para ajudá-lo.

É justamente nesse momento que a busca incessante por informações começa, busca essa normalmente realizada na internet através de sites e blogs não necessariamente produzidos por especialistas no assunto. Outra fonte constante de informações, são os grupos de pais que são formados nos aplicativos de celular. Essas fontes, sem dúvida oferecem apoio e acolhimento às famílias, entretanto, as múltiplas informações postadas diariamente apresentam algumas verdades validadas pelo conhecimento científico, mas, oferecem também crenças, mitos disfarçados, e até promessas de terapias capazes de retirar a criança do quadro de espectro autista, e estes sim, prestam um desserviço à sociedade, uma vez que podem distanciar a criança de terapias, que de fato, poderiam estimulá-la cognitivamente.

Pensado na frequência cada vez maior que essa experiência tem sido vivida por inúmeras famílias, é que nasceu o desejo de tornar acessíveis as informações já produzidas por pesquisas da neurociência.

Um estudo (LOURENÇO, ESTEVES, CORREDEIRAS e SEABRA) produzido em 2015 pela Universidade do Porto, Portugal avaliou vários programas de intervenção de atividade física em indivíduos com o T.E.A. Os programas analisados foram: natação, exercícios aquáticos, corrida, corrida e outras atividades, caminhadas na esteira, exercícios terapêuticos, jogos e atividades de lazer.

Pelo estudo apresentado foi possível concluir que são notórias as melhorias encontradas na população estudada. Um dado especialmente relevante foi a comprovação de que exercício melhora a condição física e reduz os padrões de comportamento mal adaptativo, estereotipias, comportamento agressivo e o comportamento antissocial. Após doze semanas de passeios terapêuticos foi reduzida a desatenção e as habilidades sensoriais melhoraram, assim como também atenção, percepção e comunicação.

Portanto, propor exercício físico para indivíduos com T.E.A. é um aspecto bastante pertinente, revelando benefícios nos diferentes domínios, sendo significativa a influência na melhora das capacidades cognitivas e sensoriais.

Nas últimas décadas vários trabalhos apontado o papel do cerebelo (parte importante do encéfalo, que até bem pouco tempo era conhecidamente responsável apenas pelo controle motor, entretanto, achados mais recentes demonstram que a ele também cabe a função de organizar a cronologia do raciocínio e das ideias do indivíduo) em algumas doenças psiquiátricas.

Observa-se que alterações no cerebelo produzem alterações motoras e cognitivo-afetivas. Em autistas verifica-se uma alteração no tamanho do cerebelo, o que acarreta prejuízo na conexão entre o cerebelo e o tronco encefálico. Quanto ao humor, o controle emocional é também realizado pelo cerebelo através da conexão com o córtex pré-frontal e hipotálamo

Além dos prejuízos já mencionados no quadro cognitivo – afetivo cerebelar observa-se também prejuízos as funções executivas: como planejamento, pensamento abstrato, memória de trabalho, fluência verbal. Há dificuldades para a cognição espacial, visuoespacial e memória visuoespacial, alterações da personalidade com comportamento inapropriado e do afeto.

Partindo das informações obtidas pelas pesquisas é possível concluir que pessoas com transtornos autísticos podem se beneficiar de programas que envolvam atividade física sistemática.

Referência

 

DAMIANI, Daniel, et al. Aspectos neurofuncionais do cerebelo: o fim de um dogma. In Arquivos Brasileiros de Neurologia Vol. 35 No. 1/2016 São Paulo

 

LOURENÇO, Carla, et al. Avaliação dos efeitos de programas de intervenção de atividades em indivíduos com transtorno do espectro autista. In Revista Brasileira de Educação Especial Vol. 21 N° 2/2015 Marília

 

 

 

 

 

 

 

Maristela Corralero - Centro Psicopedagógico
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