QUAIS AS ABORDAGENS UTILIZADAS PELO TERAPEUTA OCUPACIONAL, NA
INTERVENÇÃO COM CRIANÇAS EM DESENVOLVIMENTO NEUROATÍPICO
*Jackeline Bittencourt Soares
Este Projeto, tem caráter Técnico e apresenta as principais abordagens utilizadas pela Terapia Ocupacional, na Intervenção com crianças que apresentam Desenvolvimento Neuroatípico. Neuroatípico, é o termo utilizado quando o Desenvolvimento neurológico e funcionalidade cognitiva são considerados fora dos padrões típicos da população. Essa diversidade inclui pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, síndrome de Tourette, entre outros. Nosso objetivo é divulgar a importância da intervenção do TO, em uma Equipe Multiprofissional, gerando compartilhamento de saberes e Estratégias que possibilita à criança um Desenvolvimento harmônico, que reflete no desempenho de competências e habilidades. De acordo com o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), a Terapia Ocupacional é uma área do conhecimento voltada aos estudos, à prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psicomotoras, decorrentes ou não de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, por meio da sistematização e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos. A intervenção do Terapeuta Ocupacional, especificamente na área do Neurodesenvolvimento, objetiva facilitar as ações da criança, possibilitando experiência e aprendizado sensório motor, estimulando funções cognitivas e perceptivas, auxiliando na execução e adaptação das atividades de vida diária, incentivando o brincar e o lazer. Destacamos aqui os principais Modelos de intervenção, utilizados em sessões · Modelo lúdico terapêutico: O modelo propõe recorrer sistematicamente ao brincar na prática da terapia ocupacional, isto é, desenvolver o brincar na criança que não brinca. O brincar busca três elementos : a atitude, a ação e o interesse de maneira que gere prazer de ação e a capacidade de agir, levando a criança a desenvolver a autonomia e um sentimento de bem-estar. · Estudo das Etapas do Desenvolvimento Neuropsicomotor: é de fundamental importancia avaliar, analisar e colocar em estimulação as habilidades em atraso. O Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM), é o processo em que a criança desenvolve determinadas habilidades, a partir de estímulos, e apresenta caráter progressivo. A tendência é que ela obtenha a capacidade de realizar funções cada vez mais complexas com o passar do tempo. Respeitando os Marcos do DNPM. Essa aquisição de capacidades ocorre em diferentes áreas (motora, cognitiva, linguagem, psicossocial, ) e faz parte do processo de crescimento e evolução de cada indivíduo. · Integração Sensorial: A integração sensorial é o processo neurológico que organiza as nossas sensações, é a base para todas as formas de aprendizagem para que possamos viver no mundo e este faça sentido. É o alicerce para a aprendizagem acadêmica, para as competências necessárias à realização das atividades da vida diária e sociais. · Observações em Setting Terapêutico: neste espaço, no qual a relação paciente e terapeuta acontece, observamos e avaliamos todo repertorio de habilidades básicas da criança, baseando-se na Ciência ABA, na Neurociência, e em diversas abordagens da T.O. Utilizamos Estratégias que fazem sentido a nossa Prática, para estabelecer vínculo, avaliar e Intervir de forma assertiva. · Análise do Perfil Sensorial, através do Instrumento SPM – formulário CASA (3 a 5 anos e de 5 a 12 anos. A SPM foi desenvolvida a partir de dois instrumentos de avaliação utilizados por terapeutas ocupacionais, a Evaluation of Sensory Processing (ESP) (Parham & Ecker, 2002) e a SASI (Miller-Kuhaneck, Henry, Glennon & Mu, 2007) que, após vários estudos de validade de conteúdo, de confiabilidade e análise fatorial, fundiram-se em 2005 num único instrumento. A forma casa da SPM é a última versão do ESP, um questionário dirigido aos cuidadores sobre o funcionamento sensorial da criança em casa e na comunidade. A compreensão do contexto de vida da criança contribui também para a compreensão do funcionamento sensorial da mesma (Miller-Kuhaneck, Henry, Glennon & Mu, 2007). Assim, o terapeuta deve avaliar o desempenho ocupacional da criança nos seus contextos naturais, considerando as exigências do ambiente, as suas propriedades sensoriais e a forma como estas influenciam as capacidades de auto-regulação e organização da criança (Stanley, Greenspan & Wieder, 2000) · Instrumento de Avaliação de Linguagem Básica e Habilidades de Aprendizado – ABLLS-R. É uma ferramenta de avaliação, guia curricular e sistema de rastreamento de habilidades utilizada para auxiliar a orientar as instruções de linguagem e habilidades em indivíduos com autismo ou outros atrasos no desenvolvimento, oferecendo a base para a criação do Plano Terapêutico Individualizado (PTI). Após a avaliação, elaboramos ações de intervenção com objetivo de Desenvolver Habilidades referente ao desempenho Ocupacional – Habilidades motoras gerais e motoras simples e desempenho de Atividades de Vida Diária (AVD’S).
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A partir do momento que recebemos a criança e após realizar a Anamnese, seguimos com a Operacionalização das abordagens acima descrita. Cada uma delas, aplicada em seu tempo e contexto, de acorco com o repertório de competência da criança.
As atividades são propostas seguindo uma Estrutura flexivel, que chamamos Rotina de Sessão: 1. Ciclo motor Grosso (Imputs motores e/ou Proprioceptivo) 2. Ciclo motor fino (Habilidades de motricidade) 3. Estratégias de Modulação/IS 4. Brincar livre, porém mediado.
De modo geral, as atividades são propostas, seguindo aos objetivos, abaixo relacionado: · Víncular/Brincar/interargir/linguagem e comunicação/funçoes motoras e funções Executivas · Habilidades sensório-motoras – esperas na idade pré-escolar: Pular/correr/pegar/empurrar/ · brincar com bolas/brincadeiras corporais · Função cognitiva: aspectos conceituais e corporais – Nomeação e discriminação de itens (partes do corpo, discriminar letras, numerais, forma geométricas e outras categorias. Conceitos encima/embaixo, perto/longe, direta/esquerda – outros. · Habilidades motoras Gerais: (Motor grosso): andar adequadamente/correr/movimentos coordenados e funcionais/imitação motora/brincar sensório-motor/planejamento motor. (Motor fino): explorar objetos, preensões grossa e fina/movimento de pinça simples e trípode (pega do lápis) – rabiscar/colorir.
· Imagens de atividades realizada em sessão
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· HABILIDADES DE VIDA DIÁRIA – AVD’S: Avaliamos através de Questionário/ABLLS-R – em seguida monta-se um Programa de Ensino com orientação aos pais e cuidadores.
VESTUÁRIO: subir ou descer a calça/colocar ou retirar os sapatos e meias/colocar ou retirar o casaco/subir e descer o zíper de uma peça de roupa ou item similar – outros. ALIMENTAÇÃO: Comer, pegando o alimento com a mão/ tomar água ou suco com canudo ou no copo/comer com colher/garfo. MANUTENÇÃO PESSOAL: lavar e secar as mãos/lavar e secar o rosto/pentear ou escovar os cabelos/escovar os dentes USO DO BANHEIRO: Orientações Desfralde/habilidade de uso de banheiro/apoio na rotina e pistas visuais Em sessão, trabalhamos especialmente: Habilidades de alimentação no momento do lanche da criança na Clínica. Trabalha-se habilidades de uso do Banheiro e manutenção pessoal, nos momentos pontuais nas dependências da clínica. Retirar e colocar meias e sapatos, ao entrar e sair das sessões. Orienta-se a família de como estimular a criança em casa a desempenhar suas AVD’S com melhor autonomia.
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PROCESSAMENTO SENSORIAL: Principais Manifestações de sensibilidade – são observadas em sessão e através de análise do Perfil sensorial. Destaca-se os principais Sistemas
Participação Social: Atenção/Brincar compartilhado. Interações com seus pares, se mantem contato visual, participação em eventos familiar ou de lazer – entre outros Visual: Marcados por fontes de luz, objetos que giram, cores. Dificuldade para reconhecer expressões faciais. Reações intensas em locais com muitos estímulos visuais. Auditivo: não atender quando chamado pelo nome/sons altos e inesperados/Faz certos barulhos repetidamente. Tato: Recusa a diferentes estímulos táteis (grãos, buchas, areia, massinha, tinta, cola, espuma, slime, toque social/incomoda-se ao cortar unha/ter alta tolerância a dor. Sensibilidade Olfato e Paladar: Seletividade Alimentar/Recusa a algumas texturas, cheiros ou sabores. Ingestão de produtos não comestíveis (cola, tinta). Parece ignorar certos odores fortes. Recusa creme dental Processamento Vestibular: Refere-se a Reações de Equilíbrio e de proteção. Medo exagerado aos movimentos de balanço, subir, descer. Extensão contra a gravidade. Gira em torno de si. Vestíbulo-ocular: Refere-se a estabilização dos olhos, durante movimentos de cabeça/acompanhamento visual Processamento Proprioceptivo/cinestésica – observa-se Tônus muscular geral/Coordenação motora/Uso da Preensão/andar com a ponta dos pés/pisa forte no chão. Busca por movimentos. Salta muito. Mastiga objetos, brinquedos ou roupas · Somatodispraxia: É uma das disfunções de discriminação dos estímulos. Apresentada uma discriminação tátil diminuída e dificuldade de manipular objetos (ex: pega e joga os brinquedos) · Pobre discriminação Tátil + Proc. Proprioceptivo Inadequado: Rebaixamento na imitação de movimentos, dificuldade no planejamento de ações motora grossa, motor fino e oral.
A Integração Sensorial ocorre num processo dinâmico entre a recepção da informação de diversas modalidades sensoriais, como o tato, a propriocepção, o vestibular, a visão, a audição, o paladar e o olfato, através do sistema nervoso periférico com o posterior processamento desta informação no sistema nervoso central, para permitir um padrão de respostas adaptativas (Williamson & Anzalone, 2001). É através das experiências sensório-motoras que a criança desenvolve competências cada vez mais complexas. Assim, dificuldades ao nível do processamento sensorial podem contribuir para a não integração de funções superiores como a participação social, aprendizagem e a práxis (Ayres, 1981).
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Outros fatores do Desenvolvimento Infantil, que também fazem parte da intervenção do Terapeuta Ocupacional
a) DESFRALDE: O desfralde é uma fase extremamente importante na vida da criança por estar relacionado ao controle sobre algo que é dela. Envolve autopercepção, maturidade emocional e da musculatura dos esfíncteres anal e vesical. O período de desfralde considerado normal é a partir dos 18 -24meses – quando a criança passaria a iniciar controle dos esfíncteres – podendo chegar até os 4 anos. O Terapeuta ocupacional, contribui com informações realcionada ao Processamento sensorial – Principalmente sistemas Enteroceptivo (sensações internas do corpo), Proprioceptivo e Vestibular. b) SELETIVIDADE ALIMENTAR: Quando existe uma disfunção no processamento sensorial, todo sistema de regulação é alterado, afetando assim o desenvolvimento das habilidades básicas, das destrezas motoras, a comunicação e a interação social. Podemos dizer que o mesmo ocorre com a alimentação. Crianças que apresentam sinais de seletividade alimentar apresentam hábitos repetitivos durante a refeição, recusas, inflexibilidade entre outras situações. Utiliza-se técnicas de aproximação dos alimentos, durante o jogo simbólico (cozinha/fazer comidinhas/cortar comidinhas), ou promover oficinas com o próprio alimento. |
Utilizamos também, A ABORDAGEM ABA (Análise do comportamento Aplicada), na Intervenção da Terapêutica Ocupacinal A ciência ABA é uma das principais intervenções indicadas para pessoas no TEA, uma vez que suas estratégias são consideradas práticas baseadas em evidências e, por esse motivo, têm comprovação científica para sua utilização. Trabalha-se intervenção Naturalistica, onde as intervenções ocorrem de acordo com a motivação da criança. Isso significa que a equipe vai buscar o aprendizado por meio de atividades que são reforçadoras para a criança. Ex: vamos imaginar que durante a terapia, a criança comece a brincar com um carrinho. Esta brincadeira está sendo reforçadora para ela no momento, e pode ajudar a ensinar alguma habilidade, com o uso das estratégias corretas – observa-se e trabalha-se o comportamento de Espera, brincar compartilhado, Troca de turno (brinquedo, brincadeiras e jogos); Mando (fazer pedidos). O Tato(nomeação/discriminação). Habilidades sócio-afetivas. · Realiza-se manejo de comportamento, o tempo todo – de modo lúdico/naturalistico e Regulador · Seguimos orientações e compartilhamos caso clínico, com o Pisicólogo da Equipe/abordagem ABA · Trabalhamos com os Aspectos comportamentais e sócio-afetivo: Baixo limiar a frustação/irritabilidade/esquivas/fuga/Comportamento de choro/grito/agitado/hiperativo |
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CONSULTADA
Ayres, J. (1981). Sensory Integration and the child. California: Western Psychological Sevices. crefito4.org.br/site/definicao-terapia-ocupacional/ (acesso em 22/03/2024) https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/9744/1/Tese.14.15.pdf (acesso em 24/03/2024) https://genialcare.com.br/blog/aba-naturalista/(acesso em 24/03/2024) www.itad.pt/blog/desordens-de-modulacao-sensorial/ (acesso em 24/03/2024) L. Diane Parham, Ph.D., OTR/L, FAOTA, and Cheryl Ecker, M.A., OT/L (2005) Traduzido por Ana Rosário (2012) e adaptado por Isabel Marinho (2014) O brincar e a Terapia Ocupacional (stimulusneuroreab.wixsite.com) (acesso em 24/03/2024) Citado: ZEN, C. C.; OMAIRI, C. O modelo lúdico: uma nova visão do brincar para a Terapia Ocupacional. In: Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, Jan-Jun 2009, v. 17, n.1, p. 43-51.
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Dados do Profissional, autora do projeto: Jackeline Bittencourt Soares, Bacharel em Terapia Ocupacional, pela Faculdade CEST – São Luis/MA. 15 anos de Formação. Título de Especialista em Desenvolvimento Neuropsicomotor. Pós-graduanda em ABA. Habilitação em IS pelo módulo Introdutório-50h. Diversos cursos e Experiência na área de atuação com Crianças em Desenvolvimento Neuroatípico (TEA, DI, TDAH, SINDROME DE DOWN). Experiencia como Professora Titular em Formação de Professores e ATs da Educação Especial e Inclusiva. Experiência em Coordenação de Equipe e Supervisão de casos.
São Paulo, 20 de março de 2024. |